Artigos e Capítulos 

Christine de Pizan: Razão e a educação das mulheres na Cidade das Damas - Flávia Benevenuto

Trata-se de, seguindo a exposição de Christine de Pizan na Cidade das Damas, apontar os principais argumentos para desconstruir a imagem das mulheres tal como consta nos escritos de filósofos, moralistas e escritores de modo mais geral. Pretende-se, portanto, evidenciar a estratégia e os elementos argumentativos da autora para desconstruir a concepção de feminino como moralmente fraco e intelectualmente desfavorecido. Tal feito tem consequências relevantes e pretende-se indicar sua relação com os pressupostos da educação das mulheres. Por fim, objetiva-se destacar a contribuição de Christine de Pizan à filosofia, aos escritos femininos e, sobretudo, às mulheres.


Butler: a crítica de Foucault como virtude - Cristiane Maria Marinho

A partir do texto butleriano O que é a crítica? um ensaio sobre a virtude de Foucault, o presente artigo, explora a noção de resistência e, mais especificamente, resistência à governamentalidade neoliberal em Foucault e Butler. Para tanto, apresentarei a forma tal como Butler se apropriou e dialogou com a noção da crítica como virtude, presente no ensaio foucaultiano O que é a crítica?, explicitando como a filósofa desenvolveu uma reflexão que aprofundou e avançou em alguns pontos que considerou inconclusos ou incompletos naquela noção foucaultiana. Por esse viés, apresentaremos como Butler esclarece se haveria uma equivalência ou redescrição entre crítica, resistência e virtude que se expressaria na estética da existência, a qual surge a partir da arte de “não se deixar ser governado tanto assim”. Ou seja, a crítica como virtude seria uma relação entre estética, política e ética; e, consequentemente, a virtude enquanto resistência e crítica do assujeitamento pelos regimes de verdade poderia possibilitar a criação estética da vida.


As ideias iluminadas e polidas sobre as mulheres nas filosofias britânicas - Mariana Dias Pinheiro Santos

Trata-se de investigar como a mulher é retratada pelos filósofos das luzes britânicas em três etapas: I- através do papel que serviam à justificação dos gentlemen sobre a superioridade do estágio civilizatório polido; II - por meio dos elementos que fazia com que eles considerassem as mulheres iguais (ou superiores em determinados domínios) aos homens; III - através do tipo de emancipação que possivelmente encontraram em função dos escritos iluminados e das iniciativas práticas. Para essa investigação, emprego os conceitos/ideias de degradação de Honneth, incoerência de Mary Wollstonecraft e hipocrisia de Jenny Davidson e a ironia como chaves interpretativas que serão capazes de avaliar os pontos de vista polidos e iluminados dos intelectuais letrados britânicos sobre as mulheres.


Emma Goldman e o casamento como instituição irreformável - Mariana Lins Costa

O presente artigo tem por objetivo apresentar e desenvolver a crítica da pensadora política e militante anarquista Emma Goldman ao casamento, de modo a elucidar por que para ela tratar-se-ia de uma instituição irreformável. Sob uma perspectiva materialista e anarquista, Goldman desvela o casamento como nada mais do que uma das facetas da instituição da propriedade privada. E daí que defina, de um lado, o casamento como uma forma de prostituição – já que a esposa se vende por toda vida, enquanto a prostituta, por período determinado –; e, de outro, a prostituição como uma instituição necessária à instituição casamento – dado que o ideal de monopólio sexual só foi efetivamente exigido à mulher, pois ao homem sempre foi socialmente admitida a variabilidade sexual com amantes ou prostitutas. Que nos Estados Unidos à sua época, estivessem legalmente vedadas às mulheres quaisquer acessos ou informações sobre métodos contraceptivos, também foi interpretado por ela como uma imposição da lógica mercantil.



Interseccionalidade: Uma introdução a partir de Patricia Hill Collins - Renata Dias Ribeiro

A proposta do presente texto é apresentar, de forma panorâmica, o conceito de interseccionalidade, juntamente com seu percurso histórico, sua relação com o feminismo negro, bem como algumas possibilidades de uso, como, por exemplo, uma chave de leitura ou ferramenta teórico-metodológica para o feminismo negro. Para tanto iremos nos concentrar, primariamente, nas seguintes obras: Interseccionalidade (2021), de Patricia Hill Collins e Sirma Bilge; Bem mais que ideias: A interseccionalidade como teoria social crítica (2022), também de Hill Collins. Além da obra: Interseccionalidade (2019), de Carla Akotirene, da coleção de feminismos plurais. Pretende-se, com isso, fazer um percurso teórico sobre a história da intencionalidade, mas sem desvincular o conceito da prática o constitui. Ao longo deste artigo, será possível identificar uma série de conceitos e temáticas com os quais a ferramenta da interseccionalidade se cruza, tais como, inicialmente, lugar de fala, racismo e alteridade. Todos eles, apesar de diferentes na temática, se encontram em uma possibilidade de leitura inclusiva da interseccionalidade enquanto ferramenta analítica.



Gilda de Mello e Souza e a filosofia autoral no Brasil - Silvana de Souza Ramos

O presente artigo se organiza a partir de questões que procuram circunscrever o problema da autoria filosófica no Brasil. Procuro salientar que esse tema se aguça após o movimento da Primavera das Filósofas, impulsionado pelas discussões levantadas por diversas pesquisadoras durante o XVII Encontro Nacional da Anpof (Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia), realizado em Aracaju, de 17 a 21 de outubro de 2016. Nesse evento, Carolina Araújo fez uma pergunta crucial à comunidade filosófica: quantas filósofas? Hoje, em meio à persistente efervescência dos debates feministas na área, as questões relativas à filosofia brasileira permitem-me trazer à luz a relevância do pensamento original de Gilda de Mello e Souza.


Devemos pensar como uma mulher? - Telma Birchal

A pergunta “devemos pensar como uma mulher?” é problemática porque, assim expressa, parece supor que podemos falar genericamente da “mulher” como uma categoria única, abstrata, o que é um equívoco e, também, perigoso. Remeter “a mulher” a uma generalidade oposta ao “homem” desconhece os determinantes de cor, situação social, opção sexual e outros, que estão na raiz de uma diversidade de experiências do feminino. Ainda, como bem alertou Simone de Beauvoir, diferentemente do que ocorre com a abstração “homem”, “mulher” acaba sempre por indicar uma categoria biológica, fundamentalmente a fêmea, e a questão se confina nos limites da natureza.



Não-determinismo e não-esquecimento: o estatuto ambíguo do corpo na filosofia de Beauvoir - Thana Mara de Souza

Trata-se de compreender qual é o estatuto do corpo na obra O segundo sexo, de Simone de Beauvoir, mais especificamente no capítulo 1 do primeiro volume,“os dados da biologia”. Se é verdade que a descrição do corpo não é suficiente para definir o que é uma mulher-permitindo à filósofa francesa afastar-se de determinismos e essencialismos-, é verdade também que é um elemento fundamental para a compreensão das mulheres. Assim, tentar-se há demonstrar que, na moral existencialista de Beauvoir, o corpo nem determina nem é esquecido, mas se constitui como sendo, a um só tempo, uma coisa do mundo e um ponto de vista sobre o mundo, facticidade e liberdade, ou seja: ambiguidade.



Sofia ou da educação feminina: Cidadania feminina na obra Emílio - Veronica Calado e Geraldo Horn

O objetivo do presente ensaio consiste na realização de análise comparativa entre os aspectos relativos aos projetos pedagógicos propostos pelo filósofo J.-J. Rousseau aos homens e às mulheres na obra Emílio, ou da educação, com o intuito de responder ao seguinte questionamento: em que medida Sofia, personagem idealizada por Rousseau como companheira de seu aluno fictício, pode ser considerada um sujeito político (cidadã)? Qual a intenção do projeto político-pedagógico que orienta sua educação? Ao contrário da educação masculina, de viés fortemente emancipador, é possível observar que os princípios orientadores da formação de Sofia limitam-se a reforçar estereótipos de fragilidade e dependência, os quais confinam e, em alguma medida, confortam as mulheres modernas ao estado de subjugação. Submetidas a um modelo educacional rígido, as mulheres são, desde a mais tenra idade, doutrinadas a agradar e a obedecer. A existência de projetos educacionais tão distintos fornece elementos para a discussão acerca da extensão dos ideais revolucionários modernos, em especial os de liberdade e igualdade, e suas implicações no que diz respeito ao reconhecimento da inferioridade social atribuída à mulher na sociedade do século XVIII. Esta pesquisa foi desenvolvida à luz do método qualitativo, partindo de aporte teórico centrado nas obras de Rousseau e de seus comentadores.



Uma introdução à filosofia feminista - Viviane Magalhães Pereira

Este artigo tem como objetivo oferecer uma introdução ao sentido e validade da filosofia feminista. Esta surge como área de pesquisa na década de 1970, quando mais mulheres ingressaram na carreira acadêmica. Como se trata de um campo de investigação relativamente novo, para realizarmos uma exposição adequada da filosofia feminista, é necessário primeiramente esclarecer o sentido do termo “feminismo”. Em segundo lugar, é relevante compreender quais são as relações entre “filosofia” e “feminismo”, para então mostrar as especificidades do tipo de relação que confere sentido à filosofia feminista. Já para expor sua legitimidade como um modo de fazer filosofia, tomaremos como exemplo o trabalho que foi realizado em Reivindicação dos direitos da mulher (1792) por Mary Wollstonecraft e em Uma voz diferente (1982) por Carol Gilligan. Nosso método consiste em mostrar uma mudança histórica na teoria e método feminista que ocorre entre essas obras. Nossa hipótese é de que toda filosofia feminista, apesar das diferenças em relação ao alcance de sua contribuição, se constrói a partir de uma práxis determinada.




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